Casa dos Ventos quer investir R$ 55 bilhões em data center no Pecém e atrair big techs

Companhia cearense planeja construção de equipamento para trazer empresas como Apple, Amazon, Google, Meta e Microsoft

Escrito por Paloma Vargas e Luciano Rodrigues , negocios@svm.com.br
Mário Araripe
Legenda: Mário Araripe, presidente da Casa dos Ventos
Foto: Ismael Soares

A Casa dos Ventos, empresa cearense do ramo de energias renováveis, deve investir na construção de um data center na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). O investimento total no equipamento deve ser de R$ 55 bilhões

A afirmação foi feita nesta quinta-feira (9) por Mário Araripe, sócio-fundador da Casa dos Ventos, durante a entrega da Medalha do Mérito Industrial, do qual o empresário é um dos agraciados com a comenda. O evento é realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) em celebração ao Dia da Indústria.

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Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, Mário Araripe explica que o projeto do data center será no Pecém justamente por causa da ZPE. O empresário vislumbra a atração de uma das grandes multinacionais do setor de big techs, tais como Apple, Amazon, Google, Meta e Microsoft, para processarem os dados das empresas no equipamento a ser construído no Cipp.

O data center vai ser no Pecém porque tem uma ZPE. Minha ideia é viabilizar a vinda da Microsoft, ou do Google, ou da Amazon. A gente faz o armazém grande, que vai ser de 12 campos de futebol. Aí elas vêm e enchem de computador. O investimento maior é do Google, ou da Amazon, ou do Facebook, ou da Apple. Mas o que a gente faz é a base. Quero fazer isso porque quero gerar demanda por energia. O Ceará tem muita capacidade de gerar energia, somos o maior desenvolvedor do mundo. A gente tem 35 GW de capacidade de geração. 
Mário Araripe
Sócio-fundador da Casa dos Ventos

Ainda de acordo com o empresário cearense, a aposta pelo data center no Pecém está na esteira da descarbonização, e o Ceará reúne condições geográficas e climáticas próximas da perfeição para atrair investimentos vultuosos no setor.

"As big techs controlarão a inteligência artificial, e decidiram que não vão mais consumir combustíveis fósseis, só energia renovável. Elas virão para cá, vão procurar a nossa energia do vento e do Sol. Talvez a gente consiga implementar aqui os maiores data centers do mundo, e tem a vantagem do entroncamento, da distância", vislumbra.

Hidrogênio verde para atrair novas empresas

O Ceará, mais especificamente o Hub Tecnológico de Fortaleza, na Praia do Futuro, se consolidou como um dos pontos mais conectados do mundo por cabos submarinos. No local, já existem diversos data centers, por onde passa mais de 90% de todos os dados processados no Brasil e na América do Sul, conforme dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

A relação com a construção de um data center na ZPE do Pecém é pelas plantas a serem instaladas de hidrogênio verde (H2V) no local. Há pelo menos seis pré-contratos assinados para produzir o elemento no local, dentre elas uma da própria Casa dos Ventos.

Data Center Ceará
Legenda: Ceará já conta com diversos data centers, instalados geralmente nas proximidades da Praia do Futuro, em Fortaleza, maior ponto de conectividade por cabos submarinos das Américas
Foto: Tatiane Fortes/Governo do Ceará

"É como se fosse o celular e o orelhão. Quem apostou no orelhão, acho que não se deu muito bem. Não existe muita dúvida quanto a isso. A dúvida que existe é a velocidade com que isso ocorre. É uma coisa um pouquinho mais complexa, mas espero que no Brasil seja mais rápido que nos outros países, e o Nordeste tem os melhores ventos do mundo, isso é dado comprovado. Vai ser aqui, se não atrapalharem muito", aponta Mário Araripe.

Uma das analogias feitas pelo empresário cearense foi com o aplicativo de GPS Waze, bastante utilizado por motoristas em todo o mundo. Atualmente, o processamento da localização, segundo Araripe, é feito no Texas, no sul dos Estados Unidos. O objetivo é atrair as principais empresas de ramo de tecnologia para ancorarem essas informações no data center do Pecém.

"O que eu queria era processar o sinal deles. Talvez a gente consiga fazer isso, é um projeto extremamente agressivo, e eu imagino que isso possa ser feito no Porto do Pecém, vamos orientar os americanos quando eles quiserem se deslocar de carro", define.

Incorporação com petroleira e regulamentação do H2V

Embora seja cearense, um terço da Casa dos Ventos hoje está nas mãos da multinacional francesa de óleo & gás TotalEnergies, que mantém ativos no setor petrolífero. A participação da empresa europeia na companhia brasileira se deve, segundo o empresário, às mudanças que reduzirão consideravelmente o uso de combustíveis fósseis.

"Não existe dúvida nenhuma que o hidrogênio verde vai substituir o petróleo. A sexta maior petroleira do mundo comprou 34% da Casa dos Ventos pagando ágio que eu não podia recusar. As petroleiras sabem que elas não vão continuar no petróleo, então vêm para renováveis. A renovável precisa de estabilidade, de vento, sol e bateria. Quando é que ela vai tomar o espaço de uma vez do petróleo? Quando a bateria cair de preço", diz Araripe.

hidrogênio verde
Legenda: Implantação de tecnologias para viabilizar a produção de energias limpas e renováveis, como o H2V, estão entre os investimentos previstos
Foto: Divulgação/EDP

Apesar dos investimentos bilionários, o hidrogênio verde ainda não pode ser produzido comercialmente no Brasil. Isso porque a regulamentação para a geração do composto no País ainda tramita no Congresso Nacional, mas articulações estão em curso, incluindo movimentações do próprio Mário Araripe.

"Estou tentando contribuir, vamos dizer assim, na regulamentação. Fiz um estudo de como 58 países estão tratando o hidrogênio e entreguei (para o Governo Federal). É muito difícil a análise absoluta. É muito mais fácil a análise relativa. Vamos ver o que os outros fizeram e a gente aprende com os outros", arremata o empresário.

 

 

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